As funções de autoria e edição em um texto são, teoricamente, bem definidas. Como os nomes mesmo apontam, o autor é aquele que escreve; já o editor tem a função de trabalhar o texto escrito, para que este fique adequado aos fins propostos. Parece bem fácil quando dito dessa forma: cada um cumpre adequadamente o papel que lhe cabe e pronto! Mas, ao nos aproximarmos bem de um processo edição, vamos perceber que ele não é tão linear e tranquilo quanto parece. Primeiro é preciso considerar que nem sempre autores e editores possuem o mesmo pensamento sobre os textos: ideias e procedimentos podem ser distintos, o que talvez torne menos fluido o diálogo entre os profissionais. Deve haver afinação temática e conceitual entre quem escreve e edita um texto. Por exemplo, se o editor encomendou uma obra com tom leve e parcimonioso e a autora entregou uma história densa e sofrida, é bem possível que haja uma tensão entre ambos. Um outro exemplo pode ser o da adaptação de uma tese de doutorado para publicação em livro, quando uma editora e um autor entraram em conflito quanto à linguagem empregada no texto. Há também questões específicas sobre trechos e palavras que fazem parte das escolhas do escritor e das quais ele não quer abrir mão. Um caso para exemplificar: o autor utiliza uma expressão que, segundo o editor, pode ofender certos grupos sociais. Enquanto o editor, o responsável pela publicação do texto, é prudente em relação à expressão, o autor defende com veemência a manutenção da frase tal como está, alegando a capacidade dos leitores de discernir se o termo é ou não violento a pessoas e grupos. O relacionamento entre autores e editores parte do pressuposto que as intenções para com as obras sejam semelhantes e que cada um tem a oportunidade de discutir questões até que sejam suficientemente dirimidas. É desse precioso diálogo que eventuais dissensos podem ser resolvidos, com soluções que vão contribuir com a legibilidade do texto. Os autores precisam lembrar de que a responsabilidade pela publicação é dos editores, são eles que possuem os meios para fazer os textos chegarem aos leitores, enquanto os editores devem estar conscientes de que entre as suas funções não está a de autoria. Podemos considerar, portanto, que há uma política editorial que deve envolver cada processo de publicação. Essa política envolve diversas competências — lembremos também da revisão e da preparação de texto — e precisa, necessariamente, abrir espaço para o diálogo sobre cada aspecto da publicação: das mínimas estruturas, como a da palavra, até as questões que envolvem a estrutura dos capítulos e a supressão ou reescrita de trechos. Para que o processo seja o mais harmônico possível, principalmente entre autores e editores, cada um precisa reconhecer corretamente sua função, estar pronto para a escuta e utilizar critérios e argumentos razoáveis para a defesa de seus pontos. O equilíbrio do processo editorial vai se refletir positivamente na obra.
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Joice NunesGraduada em Letras, revisora de textos e escritora. Estou sempre com um livro nas mãos, desde criança. Tenho a palavra escrita como algo fundamental em minha vida. Se isso não for amor, não sei o que mais poderia ser. :) Categorias
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Março 2018
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